no espelho ela
espera
ver refletido
no vidro vazio
o corpo macio
contido narciso
que se espelha
no espelho ela
se espalha
no espelho ela
espera
ver refletido
no vidro vazio
o corpo macio
contido narciso
que se espelha
no espelho ela
se espalha
no vai e vem das ondas
o tempo infinito
prolonga o movimento
de amar
ela nua a observar
eu a me preparar
na cama amor
eu ela e o mar
liberdade
é ela
de calcinha pela casa
seios livres
leve caminhar sem
destino
liberdade
é nós sem nada
no sofá até
gozarmos entre
as horas
rolando feito cães
no tapete
liberdade
é ter
pra não fazer
é o tempo
que passa sem
se perceber
é um amor
pra se perder
em línguas bendigo
meu prazer é contigo
pro nosso pecado eu digo:
sin, come!
fonte: dennispfeil.blogspot.com
nada me interessa lá fora
vou demorar pra gozar
pra que você não vá embora
não quero nada agora
que não seja essa memória
Não suma
Amor
Só o consuma
Em cima
Da Musa
Sem norma
Só minha
Musa Norminha
Caminha em
Minha linha
Desalinha (tudo)
E usa essa forma
Formosa de musa
Me usa
Abusa
Da minha
E se aninha
Em meu peito
Inspirado no Diário Secreto de uma Musa
Na sexta da paixão
Lembro de quantas sextas
Apaixonadas passei
Só
Quantas sextas
De paixão falsa
Me trai por tão pouco
E passei ao lado de outro cristo
Quantas sextas só
Dormi crucificado na cama
Esperando o escuro do sábado
Para tentar uma mísera aleluia
Eu, Judas malhado no poste
Pela multidão arquetípica
Com trinta moedas faço aleluia
Pão, vinho e putas (santa ceia no seio profano)
Sou só mais um
Santo do pau oco (e duro)
Tentando uma paixão
De quinta, na sexta
A Bunda, que Engraçada
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda
De: Carlos Drummond de Andrade - (1902-87)